O meu espinho



Eu também tenho um espinho na carne. Um mensageiro de Satanás também me esmurra. Já tentei revidar. Já clamei ao Senhor que retire, que incomoda demais. Não três vezes, que sou crente moderno. Umas trinta vezes, no mínimo. A resposta do Senhor varia de silêncio ao clássico "a minha graça basta, meu filho, pois o meu poder se aperfeiçoa quando você está fraco". Para Deus, eu forte não presto. Sem incômodo eu fico soberbo, metido, viro super-homem. Ele, como sempre está certo, mas a dor é em mim. Eu não quero mais este espinho furando a minha carne! Não ouso ir além, contudo, em minha queixa. Sei que sou um instrumento de bênção nas mãos de Deus, mesmo mancando, o que me faz feliz. Sou um médico ferido. Por causa do espinho na carne aprendi a ser mais simpático com a dor alheia. Sei o que é sofrer, portanto entendo o sofrimento dos aflitos. Aposentei minhas críticas aos pecadores que se arrependerem. Entendo os filhos pródigos. Sei levantar uma adúltera do chão, que está ali justamente por causa de seus pecados e por causa do pecado dos santos, santos, santos. Gosto de estar na casa de amigos mais que estar no Templo dos Fariseus. Me identifico mais com os que "não são" que com os que pensam que são. O espinho da carne, embora tenha vindo do diabo na intenção de me desanimar, transformou para melhor minha estrutura. Por causa do terrível desconforto espiritual sou mais humano. De boa vontade pois me gloriarei nesse... maldito espinho! Esta dor não é uma bênção? Agora, quando o espinho dói - e ás vezes dói de forma insuportável - eu faço uma careta de dor e... grito "glória a Deus!". Não se apresse em afirmar que sou masoquista. Detesto sentir dor. Sou apenas grato ao Senhor por usar um instrumento do mal para o meu bem. Pensando bem, todos os crentes se não tem, deveriam ter um espinho na carne. Não existe instrumento mais eficiente para curar o ser humano da soberba que um bom e velho espinho.

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