Os outros deuses


Todos os artífices de imagens esculpidas são nada; e as suas coisas mais desejáveis são de nenhum préstimo; e suas próprias testemunhas nada vêem nem entendem, para que eles sejam confundidos. Quem forma um deus, e funde uma imagem de escultura, que é de nenhum préstimo? Eis que todos os seus seguidores ficarão confundidos; e os artífices são apenas homens; ajuntem-se todos, e se apresentem; assombrar-se-ão, e serão juntamente confundidos. O ferreiro faz o machado, e trabalha nas brasas, e o forja com martelos, e o forja com o seu forte braço; ademais ele tem fome, e a sua força falta; não bebe água, e desfalece. O carpinteiro estende a régua sobre um pau, e com lápis esboça um deus; dá-lhe forma com o cepilho; torna a esboçá-lo com o compasso; finalmente dá-lhe forma à semelhança dum homem, segundo a beleza dum homem, para habitar numa casa. Um homem corta para si cedros, ou toma um cipreste, ou um carvalho; assim escolhe dentre as árvores do bosque; planta uma faia, e a chuva a faz crescer. Então ela serve ao homem para queimar: da madeira toma uma parte e com isso se aquenta; acende um fogo e assa o pão; também faz um deus e se prostra diante dele; fabrica uma imagem de escultura, e se ajoelha diante dela. Ele queima a metade no fogo, e com isso prepara a carne para comer; faz um assado, e dele se farta; também se aquenta, e diz: Ah! já me aquentei, já vi o fogo. Então do resto faz para si um deus, uma imagem de escultura; ajoelha-se diante dela, prostra-se, e lhe dirige a sua súplica dizendo: Livra-me porquanto tu és o meu deus. Nada sabem, nem entendem; porque se lhe untaram os olhos, para que não vejam, e o coração, para que não entendam. E nenhum deles reflete; e não têm conhecimento nem entendimento para dizer: Metade queimei no fogo, e assei pão sobre as suas brasas; fiz um assado e dele comi; e faria eu do resto uma abominação? ajoelhar-me-ei ao que saiu duma árvore? Apascenta-se de cinza. O seu coração enganado o desviou, de maneira que não pode livrar a sua alma, nem dizer: Porventura não há uma mentira na minha mão direita?
O ponto de vista de Isaías (44.9-20) sobre os outros deuses, há aproximadamente 2 710 anos.


ANTES DE MAIS NADA

Não foi fácil me aventurar num tema tão potencialmente inflamável. Preguei sobre Atos 19.23-40 em meados de 1996, ocasião em que fiz os primeiros rabiscos de Os outros deuses. Adiei o projeto do livro logo em seguida, mas continuei acompanhando as conseqüências da idolatria no Brasil – como ela nos torna insensíveis ao sopro do Espírito, enquanto mantém a nação entretida com uma espiritualidade teatral.
Asseguro que não decidi fazer apologia pelo simples prazer da polêmica. A idolatria envolve posicionamentos religiosos bastante distintos: uns autênticos e compreensíveis, outros nem tanto. Mas, seja como for, já é tempo de o assunto voltar à pauta entre todos os que se auto-declaram cristãos, nem que seja pelo simples prazer de gastar tempo com uma saudável discussão. Se isso acontecer, verei coroado de êxito o meu projeto.


O PRIMEIRO MANDAMENTO

Natanael de Barros Almeida contou que quando a Babilônia corria o perigo de ser invadida pelos persas, o povo pensou que devia salvar primeiramente os deuses Bel e Nebo. Os deuses foram então colocados sobre animais que iam na frente da multidão. Como fossem uma carga muito pesada, a fuga tornou-se muito lenta. E assim, em vez de salvar o povo, os deuses tornaram-se um empecilho para a multidão. E concluiu: Desse modo o povo foi vencido e levado ao cativeiro.
Infelizmente, o trágico erro dos antigos babilônios tem se repetido com uma freqüência estonteante no seio das nações contemporâneas. A humanidade evoluiu cientificamente, mas ainda está na idade da pedra lascada no que se diz respeito à adoração verdadeira. Eu sou o Senhor, este é o meu nome; a minha glória, pois, não a darei a outrem, nem a minha honra, às imagens de escultura (Is 42.8). Ainda não entendemos que há uma eternidade de diferença entre Deus e os outros deuses.
Segundo o Dicionário Aurélio Básico da Língua Portuguesa, idolatria é culto prestado a ídolos, amor ou paixão exagerada, excessiva. Já ídolo é uma estátua ou simples objeto cultuado como deus ou deusa, objeto no qual se julga habitar um espírito, e por isso venerado, pessoa a quem se tributa respeito ou afeto excessivo, enquanto idólatra é pessoa que adora ídolos.
A queda dos devotos de Bel e Nebo e as definições acima, ajudam a entender o seguinte princípio bíblico: nem anjos, nem homens, nem a natureza e, muito menos, as representações deles, devem ser cultuados, mas tão somente Deus. O primeiro dos mandamentos do Decálogo, dado aos israelitas e autografados pelo próprio Deus no Sinai, anunciava solenemente: Eu sou o Senhor, teu Deus, que ti tirei da terra do Egito, da casa da servidão. Não terás outros deuses diante de mim. Não farás para ti imagem de escultura, nem semelhança alguma do que há em cima dos céus, nem embaixo na terra, nem nas águas debaixo da terra. Não as adorarás, nem lhes darás culto; porque eu sou o Senhor, teu Deus, Deus zeloso (Êxodo 20.2-4a).
O Senhor não foi criado por nós, foi Ele quem nos criou no Éden (Formou o Senhor Deus ao homem do pó da terra e lhe soprou nas narinas o fôlego da vida, e o homem passou a ser alma vivente – Gn 2.7) e nos recriou no Calvário (Deus prova o seu próprio amor para conosco pelo fato de ter Cristo morrido por nós, sendo nós ainda pecadores – Rm 5.8). O Senhor não precisa ser salvo, é Ele quem nos salva (Elevo os olhos para os montes: de onde me virá o socorro? O meu socorro vem do Senhor, que fez o céu e a terra - Sl 121.1,2). O Senhor não precisa ser defendido por nós, é Ele quem nos defende em Jesus (Filhinhos meus, estas coisas vos escrevo para que não pequeis. Se, todavia, alguém pecar, temos Advogado junto ao Pai, Jesus Cristo, o Justo; e ele é a propiciação pelos nosso pecados, e não somente pelos nossos, mas ainda pelos do mundo inteiro - 1Jo 2.1,2 ).

A GRANDE DIANA

Em sua terceira viagem missionária, o apóstolo Paulo pregou Jesus, o Senhor, em Éfeso, capital da província romana na Ásia, que, além de venerar o imperador e um artefato supostamente vindo de Júpiter, também se curvava e servia a Grande Diana, também conhecida como Ártemis (At 19). Foi uma campanha evangelística cheia do poder do Espírito, pois ele, forasteiro da seita do Caminho (como era conhecido o cristianismo então), anunciou Jesus durante três meses na sinagoga e ensinou durante dois anos na escola de Tirano, evangelizando asiáticos, gregos e judeus.
Lucas registrou ainda que Deus, pelas mãos de Paulo, fez milagres extraordinários, a ponto de enfermos e endemoninhados, ao entrarem em contato com peças do vestuário de Paulo, serem curados e libertos, enquanto espíritas das mais diversas correntes traziam seus livros e os queimavam em praça pública, arrependidos de suas práticas, segundo definição bíblica, abominavéis. Aleluias!!
Houve até um caso interessante e engraçado. Sete filhos de um judeu chamado Ceva decidiram exercer um ministério semelhante ao de Paulo, sem apresentarem as credenciais de terem tido um encontro pessoal com Jesus - talvez o mesmo equívoco em que incorrem os modernos católicos carismáticos. Um dia, os sete exorcistas ambulantes, encontraram vários homens possessos de espíritos imundos e foram logo ordenando: Esconjuro-vos por Jesus, a quem Paulo prega. Mas, um demônio num daqueles homens, respondeu sem demora: Conheço a Jesus e sei quem é Paulo; mas vós, quem sois? Depois, saltou sobre os sete cristãos denorex (aquele que parece, mas não é), dando sopapos e pontapé para todos os lados, só parando quando eles fugiram - feridos, nus, derrotados e envergonhados.
Dessa forma, o Evangelho prosperou livremente, revolucionando vidas e ameaçando estruturas tidas como sólidas, até o dia em que entrou em cena Demétrio, o presidente do sindicato dos ourives de Éfeso (fabricantes e comerciantes de artefatos de ouro e prata).
Lucas narrou assim todo o episódio, registrado em Atos 19.23-40:
Por esse tempo houve grande alvoroço acerca do Caminho. Pois um ourives, chamado Demétrio, que fazia, de prata, nichos de Diana e que dava muito lucro aos artífices, convocando-os juntamente com outros da mesma profissão, disse-lhes: Senhores, sabeis que deste ofício vem a nossa prosperidade e estais vendo e ouvindo que não só em Éfeso, mas em quase toda a Ásia, este Paulo tem persuadido e desencaminhado muita gente, afirmando não serem deuses os que são feitos por mãos humanas. Não somente há o perigo de a nossa profissão cair em descrédito, como também o próprio da grande deusa, Diana, ser estimado em nada, e ser mesmo destruída a majestade daquela que toda a Ásia e o mundo adoram.
Ouvindo isto, encheram-se de furor e clamaram: Grande é a Diana dos efésios! Foi a cidade tomada de confusão, e todos, à uma, arremeteram para o teatro, arrebatando os macedônios, Gaio e Aristarco, companheiros de Paulo.
Querendo este apresentar-se ao povo, não lhe permitiram os discípulos. Também asiarcas, que eram amigos de Paulo, mandaram rogar-lhe que não se arriscassem indo ao teatro.
Uns, pois, gritavam de uma forma; outros, de outra; porque a assembléia caíra em confusão. E, na sua maior parte, nem sabiam porque motivos estavam reunidos. Então tiraram Alexandre dentre a multidão, impelindo-o os judeus para a frente. Este, acenando com a mão, queria falar ao povo. Quando, porém, reconheceram que ele era judeu, todos, a uma voz, gritaram por espaço de quase duas horas: Grande é a Diana dos efésios!
O escrivão da cidade, tendo apaziguado o povo, disse: Senhores, efésios: quem, porventura, não sabe que a cidade de Éfeso é a guardiã do templo da grande Diana e da imagem que caiu de Júpiter? Ora, não podendo isto ser contraditado, convém que vos mantenhais calmos e nada façais precipitadamente; porque estes homens que aqui trouxestes não são sacrílegos, nem blasfemam contra a nossa deusa. Portanto, se Demétrio e os artífices que o acompanham têm alguma queixa contra alguém, há audiências e procônsules; que se acusem uns aos outros. Mas, se alguma outra coisa pleiteais, será decidida em assembléia regular. Porque também corremos perigo de que, por hoje, sejamos acusados de sedição, não havendo motivo algum para justificar este ajuntamento. E, havendo dito isto, dissolveu a assembléia.
A idolatria desenvolvida em torno de Diana, maquiada de apenas veneração e respeito, não se limitou apenas à esfera religiosa, mas acabou influenciando negativamente a sociedade, a economia, a cidadania e a consciência coletiva dos efésios. De onde inferimos que a idolatria, seja em Éfeso, há dois milênios, ou no Brasil, hoje, sempre reduzirá o homem à condição de principal vítima de seu ídolo. Prata e ouro são os ídolos deles, obra das mãos de homens. Têm boca, mas não falam; têm olhos e não vêem; têm ouvidos e não ouvem; têm nariz e não cheiram. Suas mãos não apalpam; seus pés não andam; som nenhum lhes sai da garganta. Tornem-se semelhantes a eles os que o fazem e quantos neles confiam, desabafou o salmista (Sl 115.5-8).
No seu Palestras em teologia sistemática, Henry Clarence escreveu: Quando consideramos o fato de que literalmente centenas de milhões de pessoas ainda se curvam diante de paus e pedras, não podemos deixar de perceber a poderosa afinidade que o politeísmo tem com a natureza humana. Para ele, o politeísmo se constitui um grande obstáculo ao progresso da religião verdadeira.
Mas, que conseqüências a adoração à deusa morta Diana trouxe para os efésios vivos? O que acontece quando uma nação faz pouco ou nenhum caso de Deus, se deixando seduzir sem nenhuma resistência pelos encantos de uma imagem de escultura? Alguém famoso disse que, quando não aprendemos com os erros da História, corremos o risco de repeti-los em nossa história.

A IDOLATRIA É UMA PEQUENA EMPRESA, UM GRANDE NEGÓCIO.

Observe como Demétrio, ao convocar seus colegas de profissão para uma cruzada contra o Evangelho, deixou transparecer o real motivo de seu desconforto: Senhores, sabeis que deste ofício vem a nossa prosperidade. Talvez ele não estivesse 100% interessado em preservar a imagem da grande Diana, mas a sua grande conta bancária, uma fortuna adquirida explorando a ingenuidade e a ignorância de um povo me-engana-que–eu-gosto.
Muita gente culta e bem informada bota a boca no trombone para denunciar a exploração financeira por parte da cúpula da Universal do Reino de Deus, levada a bom êxito em suas campanhas. O caso é de fato polêmico. Mas seja como for, creio que, para serem justos, os críticos deveriam botar era as barbas de molho, porque cidades inteiras nasceram e floresceram graças ao sempre próspero comércio da idolatria, tais como Juazeiro, Aparecida, Lourdes e Fátima. Retire delas os ídolos e todas voltariam ao anonimato, a não ser que se dedicassem a outra atividade produtiva.
Idolatria sempre foi um dos negócios mais lucrativos do planeta, um verdadeiro negócio da China. Por isso entende-se porque líderes religiosos, familiarizados com as contundentes advertências da Bíblia contra, continuam incentivando a adoração aos ídolos. As desculpas deles confundem mais do que explicam: O povo é analfabeto, uma imagem fala mais que mil versículos da Bíblia; não é adoração, é veneração; você também não guarda um retrato de sua mãe em casa? ou são representações de personagens da própria Bíblia. Mas, o fato é: se a estátua deixasse de atrair multidões, toda a cúpula religiosa por trás deles teria bastante trabalho para manter o rebanho dócil, cativo e obediente.


A IDOLATRIA CAUSA FUROR E CONFUSÃO EM SEUS ADEPTOS.

Infelizmente, os que, de alguma forma, se deixam enlaçar pelos ídolos, costumam defender suas crenças, não com o uso da razão e da Bíblia, mas com muito rancor e uma boa dose de desequilíbrio emocional, dificultando a iluminação do Espírito Santo em suas vidas. Lucas registrou que muitos encheram-se de furor contra Paulo e seus ensinos, enquanto outros caíram em grande confusão, acrescentando: na sua maior parte, nem sabiam por que estavam reunidos. Dá para supor um diálogo mais ou menos assim: - você está aqui para nos ajudar a enxotar Paulo da cidade ou para defender a honra da nossa deusa maior? E ouviria como resposta - Não sei se gosto dela ou se detesto ele, só sei que estou mordido e vou descarregar minha cólera em alguém! Mas, me diga uma coisa: qual é a pauta da reunião de hoje, mesmo?
Como o único Deus Vivo, Criador e Sustentador do Universo, difere radicalmente dos milhares de deuses, criados e sustentados pelos religiosos! Toda ira confusa, ou confusão irada, não procede do Senhor, pois Deus não é de confusão e sim de paz (1Co 14.33). Se o Brasil tivesse consciência do mal que se abate sobre a nação como conseqüência de nossa histórica afinidade com a idolatria, com certeza decretaria uma semana de arrependimento nacional, pela forma truculenta com que reagimos à pregação dos evangélicos, os únicos que ousaram pregar contra a tirania dos ídolos.
Descarregar nossa frustração religiosa no grupo que carrega no peito o prazer de poder se comunicar, via oração, com o Deus vivo, é, no mínimo, uma grande injustiça. A intimidade dos crentes com Deus causa um profundo mal-estar espiritual em quem se esforça muito, através de intermináveis penitências, mas não consegue travar nenhum diálogo proveitoso com seus supostos padroeiros. E o pior: eles não estão nem aí para os sentimentos de seus afilhados, por um motivo simples – eles não têm vida, são meros objetos (Is 41.24,29; 42.17)! Por isso, não vos desvieis atrás de ídolos vãos. Para nada vos aproveitam, nem poderão livrar-vos, porque são inúteis (1Sm 12.21).


A IDOLATRIA ACABA COM O MÍNIMO DE CRIATIVIDADE NA LITURGIA.

O culto aos ídolos é destituído de vida, beleza e novidade. Os participantes de tal adoração sabem que nada de novo vai acontecer, por isso a monotonia se encarrega de simplificar ao máximo a liturgia em seus ajuntamentos religiosos. Os apaixonados pela grande Diana inventaram uma espécie de slogan que repetiram durante duas horas, como uma ladainha: Grande é a Diana dos efésios!
O episódio seria cômico, se não fosse trágico: como seres humanos criados à imagem e semelhança de Deus, dotados de inteligência e senso crítico, puderam elogiar a suposta magnificência de uma estátua com uma única frase, durante 120 minutos (At 17.29)?
Jesus adverte quanto à repetição, por falta de originalidade, na oração: Orando não useis de vãs repetições, como os gentios; porque presumem que pelo seu muito falar serão ouvidos (Mt 6.7). Suponhamos um filho que sempre se aproxima de seu pai com a seguinte expressão: paínho, gosto muito de você e adoro bolo-de-rolo. Me dá um beijo! Faça chuva ou faça sol, seja qual for a ocasião, sempre se dirige ao pai enfatizando o seu apreço por ele e sua adoração pelo guloseima. Certamente, o pai, um dia, confessaria à mãe do articulado garoto: sei que nosso filho gosta de mim e de bolo, mas ele deve ter um parafuso a menos, pois vive se repetindo. Já não suporto mais! Agora, me responda: será que Deus é mais tolo do que esse pai imaginário? Será que Ele vibra com nossas rezas intermináveis, nossas novenas quilométricas e nossas ladainhas arrastadas? Você leria este livro, se em todas as páginas só houvesse a frase, escrita centenas de vezes, você deve fugir dos ídolos? Seria uma forma cruel de penitência, um desperdício de papel e um atentado contra a inteligência do leitor. Oh, amigo, em nome de Jesus, creia: Deus espera que você se aproxime dEle como uma criança procura o pai a quem ama, sem cerimônias, sem protocolos, mas cheio de gratidão e confiança. Pedi, e dar-se-vos-á; buscai e encontrareis; batei, e abrir-se-vos-á. Pois aquele que pede, recebe; o que busca, encontra; e ao que bate, se abre. Qual dentre vós é o homem que, pedindo-lhe pão o filho, lhe dará uma pedra? Ou, pedindo-lhe peixe, lhe dará uma cobra? Ora, se vós, sendo maus, sabeis dar boas coisas aos vossos filhos, quanto mais vosso Pai, que está nos céus, dará boas coisas aos que lhe pedirem? (Mt 7.7-11).
Só a idolatria consegue manter viva a presença de uma tão submissa multidão em seus cultos ao longo de décadas, apesar de uma liturgia tão medíocre. A explicação para o fenômeno é bem simples: o deus deste século (Satanás) cegou o entendimento dos incrédulos, para que não lhes resplandeça a luz do evangelho da glória de Cristo, o qual é a imagem de Deus (2Co 4.4). Preste atenção nesta afirmação do já citado Henry Clarence: Hoje, assim como na época da Bíblia, os homens estão “entregues aos ídolos” (Os 4.17) e encontram muita dificuldade para se separarem deles. Mas a idolatria não apenas deixa o coração vazio, mas também degrada a mente e retarda e civilização.


A IDOLATRIA PARECE UM BOM CAMINHO, MAS É UM DESCAMINHO.

A idolatria torce a realidade, chamando conversão de persuasão e caminho de descaminho. As palavras de Demétrio denunciam toda a inversão de valores que se processa no espírito de quem se deixa iludir pelos ídolos: estais vendo e ouvindo que não só em Éfeso, mas em toda a Ásia, este Paulo tem persuadido e desencaminhado muita gente, afirmando não serem deuses os que são feitos por mãos humanas. Paulo não convenceu ninguém a abandonar a grande Diana, antes o Infinito Deus operou neles uma mudança interior profunda, de forma a fazê-los perceber o quanto haviam cultivado uma fé infantil, inútil e indigna.
Quem patrocina a idolatria cria uma áurea de piedade tão espessa nos seus cultos que os simpatizantes crêem estar alegrando muito o coração de Deus, o que é um tremendo engano, pois a hora vem, e agora é, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade, porque o Pai procura a tais que assim o adorem. Deus é Espírito, e importa que os que o adoram o adorem em espírito e em verdade (Jo 4.23,24). Deus se sente honrado quando o adoramos em espírito e em verdade (Rm 12.1,2), nunca quando adulamos um pedaço de gesso, seja que forma tiver ou onde estiver. Quem ainda se embaraça com essa verdade, precisa entender que há um caminho que ao homem parece direito, mas o fim dele conduz à morte (Pv 14.12).
O único caminho autorizado pelo e para o Pai sempre foi, e será sempre, Jesus (Jo 14.6): Eu sou o caminho, a verdade e a vida. Ninguém vem ao Pai, senão por mim. A idolatria parece um caminho piedoso, que pode inclusive ser trilhado pelos cristãos, mas tem se revelado historicamente um atalho que conduz os imprudentes ao desespero de um beco sem saída (Ap 21.6-8).


A IDOLATRIA, ONDE NÃO HÁ LIBERDADE RELIGIOSA, IMPEDE A CONVIVÊNCIA DEMOCRÁTICA.

Depois do episódio envolvendo Diana, Paulo deixou Éfeso, indo para a Macedônia, com certeza grato ao escrivão da cidade que, demonstrando uma imparcialidade e um bom senso raros, fez o povo refletir sobre a loucura da situação gerada pelo ciúme interesseiro de Demétrio: se Demétrio e os artífices que estão com ele têm alguma coisa contra alguém, há tribunais e procônsules: que se acusem uns aos outros. Por Éfeso ser uma capital politeísta (adorava, no mínimo, o imperador, a imagem que caiu de Júpiter e a poderosa Ártemis), havia pessoas em cargos públicos interessadas em manter a liberdade de culto, talvez por indiferença ou por serem adeptos da filosofia do toda-religião-é-boa. Seja como for, o ideal é a separação entre coisas religiosas e coisas políticas, para que o cidadão dê a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus (Mt 22.21).
A democracia exige que o Brasil acabe com a intimidade entre púlpito e palanque. Nossos filhos são sutil e abertamente instruídos, nas escolas públicas, a assimilar os ritos católicos; parte dos nossos impostos são utilizados para manter ou reformar templos católicos (com a desculpa de que são patrimônio histórico e cultural da humanidade) e o catolicismo tem até o poder de puxar as orelhas do presidente, caso se sinta prejudicado por algum projeto de lei. É preferível haver uma nova forma de culto em cada esquina que permitir que uma religião chapa-branca – qualquer que seja ela – monopolize o poder em todo o país.
Houve um período na História chamado de Época das Trevas, onde o catolicismo reinou quase absoluto. No livro Roma, a Igreja e o Anti-Cristo, Ernesto Luiz de Oliveira cita que o Estado, ou melhor, a autoridade civil era apenas o departamento político da Igreja. Misericórdia!! Paulo e seus amigos de ministério não teriam nenhuma chance de defesa numa cultura dessas. Quando o poder religioso se alia ao poder político, ambos tratam logo de calar qualquer voz dissidente, se utilizando, para isso, até de pena de morte com rito sumário.


A VERDADE POR TRÁS DOS ÍDOLOS

A idolatria, que vai muito bem, obrigado, continua arregimentando multidões e arrecadando bilhões de dólares ao redor do planeta. Os veículos competentes estimaram que 1 milhão de devotos visitaram, em 1996, a imagem encontrada por pescadores num rio, que deu origem e fama internacional a Aparecida. A idolatria continua sendo um excelente negócio, mas também um grande problema para a espiritualidade de muitos brasileiros, principalmente os mais carentes de educação ou que têm receio de questionar estruturas.
Toda sorte de culto prestado a ídolo, até mesmo aquele com farda e sotaque cristãos, diverge do real propósito do cristianismo primitivo. Quem segue por um Caminho seguro, deve resistir à tentação de um atalho duvidoso, o que levou João a advertir (1Jo 5.21): Filhinhos, guardai-vos dos ídolos.
Deus nos criou com inteligência, liberdade, criatividade, sensibilidade, mobilidade e capacidade de comunicação, entre outras características. O culto aos ídolos, contudo, reduz o homem a um robô religioso, igualzinho ao deus a quem espanam e lustram. Conheça, apenas por curiosidade, algumas características dos ídolos, e observe como eles são nocivos à sua espiritualidade:
1. Eles são insensíveis: Ali servireis a deuses feitos por mãos humanas, de madeira e de pedra, que não vêem nem ouvem, nem comem nem cheiram ( Dt 4.28);
2. Eles perecem: O pobre demais, que não pode oferecer tanto, escolhe madeira que não apodrece. Ele busca um artífice sábio para gravar uma imagem que não se pode mover (Is 40.20);
3. Eles são impotentes: Como um espantalho num pepinal, não podem falar; necessita de que os leve, pois não podem andar. Não tenhais receio deles: não podem fazer o mal, nem podem fazer o bem (Jr 10.5);
4. Eles são indignos da adoração de seres inteligentes: Sendo nós geração de Deus, não havemos de pensar que a divindade seja semelhante ao ouro, ou à prata, ou à pedra esculpida pela arte e imaginação do homem (At 17.29);
5. Eles são degradantes: Dizendo-se sábios, tornaram-se loucos, e mudaram a glória de Deus incorruptível em semelhança da imagem de homem corruptível, bem como de aves, quadrúpedes e répteis. Por isso, Deus entregou tais homens à imundície, pelas concupiscências de seu próprio coração, para desonrarem o seu corpo entre si; pois eles mudaram a verdade de Deus em mentira, adorando e servido a criatura em lugar do Criador, o qual é bendito eternamente. Amém. (Rm 1.22-25);
6. Eles dão a falsa sensação de segurança: As imagens de escultura queimarás ao fogo. Não cobiçarás nem a prata nem o ouro que haja nelas, nem os tomarás para ti, para que não sejas iludido, pois é abominação ao Senhor teu Deus (Dt 7.25);
7. Eles servem de fachada para muitos demônios: Mas que digo? Que o ídolo é alguma coisa? Ou que o sacrificado ao ídolo é alguma coisa? Antes digo que as coisas que os gentios sacrificam, é aos demônios que sacrificam, não a Deus; e não quero que sejais participantes com os demônios (1Co 10.19,20), e
8. Eles nos desviam de Deus: Cuidai para que o vosso coração não vos engane e, desviando-vos, sirvais a outros deuses, e vos prostreis diante deles (Dt 11.16).


A DECISÃO É SUA

De fato, nunca soou tão reveladora a letra da música popular: Devagar, que o santo é de barro. Devagar, ele pode cair. Nossa mais sincera oração é que o Espírito Santo possa usar estas linhas para convencer você da urgente necessidade de se ter uma fé simples no Único Deus Vivo e Soberano. Ele sim, poderá suprir todas as suas necessidades espirituais, pois tem cuidado de nós. Que as palavras de Tomé, aos pés de Jesus ressurrecto, seja sua única realidade devocional: Senhor meu e Deus meu!
Finalmente, gostaria que você respondesse com toda sinceridade: Você gostaria de se libertar da péssima influência dos ídolos? Quer, a partir de agora, viver um cristianismo que liberta ao invés de encarcerar? Quer honrar, adorar e servir a Jesus, o único caminho que nos reconduz em segurança ao Pai? Quer abandonar toda religiosidade infantil, que precisa ver uma figura para se convencer das realidades sobrenaturais, e começar a consultar, com uma fé adulta, a Bíblia, a imutável Palavra de Deus? Enfim, gostaria de deixar de ver para crer e começar a crer para ver a glória de Deus em sua vida? Se você respondeu afirmativamente a todas essas perguntas, então faça com fé a seguinte oração:
Senhor, creio que sou obra das tuas mãos e que És o Único Deus, infinitamente superior aos deuses forjados pela criatividade humana. Por isso, te adoro em espírito e em verdade. Não preciso ver uma imagem para crer, porque, graças te dou, posso crer para ver a tua glória em minha vida, mediante a fé em Jesus Cristo. Ajuda-me a enxergar todo o mal que os ídolos causaram à humanidade na História, para que eu seja instrumento em Tuas mãos, a fim de levar o Evangelho aos meus conhecidos, ainda encantados pelo culto aos ídolos que já invadiu até igrejas. Em nome de Teu Filho, Jesus, suplico. Amém!


Revisão
Suelene Batista
Editoração eletrônica e Disign interno
Marcos Azevedo
Primeira edição - 1998
Tiragem 100 exemplares
Surubim PE Brasil
Não é permitido a reprodução de nenhuma parte deste livro, sob qualquer forma, sem a permissão por escrito do Autor.

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