Surrada pelo amor de sua vida


O que você vai ler agora é chocante. Prepara-se. Primeira cena: O marido chega em casa e a esposa está chorando. Ao vê-lo, tenta disfarçar. Ele percebe e pergunta: “Por que você está chorando, rapariga?!” Ela tenta desconversar: “Nada não, eu...” Não termina a frase. A tapa vem com tanta força que a derruba no chão. Ele avança e dá mais três murros. No rosto, na cabeça, nas costas.
Segunda cena: O marido chega em casa bêbado e liso. Já é tarde, umas três horas da madrugada. A mulher acorda e abre a porta. “Quero tomar café!”, pede em tom de ameaça. É quando ela comete mais um de seus “erros”. Pergunta: “você sabe que horas são? Isso é hora de chegar?!” Não falou mais nada. Viu os olhos dele se crispando de ódio e sentiu o murro que quase deslocou seu maxilar. A dor foi tão grande e o medo de que acontecesse de novo tão intenso, que ela tentou se arrastar para longe dele. O marido a puxou pelos cabelos e a arrastou até a cozinha. “Quero tomar café, rapariga!”
Terceira cena: O marido está cheio de amor para dar. Quando tenta fazer sexo, a esposa reluta. Teve um dia difícil, está cansada, qualquer motivo. Deitado em cima dela, ele sente-se não correspondido, e faz o que acha certo. “Você não quer me dar, não, rapariga? Tem outro macho, é?” Com o braço livre dá uma tapa com tanta força que o estralo é ouvido na casa vizinha. Incontrolável, ele aplica uma surra tão violenta que a mulher só escapa da morte porque é socorrida pelos filhos.
Qualquer mulher desse, se procurar um religioso, vai ouvir dele o conselho: “reze que passa!” ou “traga uma oferta que passa!” ou “submeta-se a ele que passa”. Em resumo, continue apanhando até acontecer um milagre ou até ele te matar. É verdade, um milagre pode acontecer. Creio em milagres e sou testemunha viva de que o Senhor intervém com poder e glória na vida de qualquer um. O que me assusta é que a gente pode estar falando com uma mulher que será assassinada no dia seguinte. O que fazer, pastor? Mulher que apanha do marido precisa saber de seus direitos deveres. Precisa saber que um beijo pode evoluir para uma relação sexual prazerosa e deliciosa e que um tapa pode evoluir para um assassinato brutal e covarde. Precisa saber que há uma lei que a protege, pois a sociedade não suporta ver covardes baixando a mão em quem jurou amar e cuidar – basta prestar uma queixa na delegacia mais próxima. A decisão é somente da mulher: ou denuncia o facínora ou continua apanhando à espera de um milagre. Mandar a mulher apanhar resignada, sem informar que ela também tem o direito (e o dever) de dar fim às sessões de espancamento – é tão brutal quanto ser cúmplice de um torturador.

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